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sábado, 28 de abril de 2012

1º Autocross SRC de Colos - Foi há 15 Anos



Assinalou-se dia 27 do mês de Abril 15 anos passados sobre um dos maiores e mais espectaculares acontecimentos ocorridos na Vila de Colos no ultimo quarto de século. No dia 27 de Abril de 1997 realizou-se o 1º Autocoross/ Rallycross da Vila de Colos, denominado na altura por 1º Autocross Ayrton Senna, em homenagem ao malogrado piloto de fórmula 1 que tinha falecido havia apenas 3 anos e de quem todos nós, organização do evento, admirávamos e idolatrávamos.
A ideia em si não era nova, já se realizavam aqui e ali eventos desta natureza. Por aqueles anos, inícios da década de 90 do século passado, já eram famosos autocrosses na Aldeia das Ermidas, patrocinadas pelo Vinho de Conqueiros e promovidas pelo sempre irreverente e dinâmico Armando, mais conhecido pelo Armando dos Alumínios, sempre ao serviço do Clube Ermidense como forma de angariação de fundos para melhoramentos gerais nas infra-estruturas do clube.
Em Colos, um pequeno grupo constituído por mim próprio, pelo Pedro Guerra, pelo Humberto Gonçalves e pelo Ludjero Loução tínhamos o “bichinho” das corridas, como se costuma dizer, sempre fomos entusiastas dos automóveis e das corridas e íamos muitas vezes assistir aos eventos na Aldeia das Ermidas.
Dai até adquirirmos os nossos próprios carros de corrida foi um passo, e logo uma equipa de 3 carros estava formada e pronta a alinhar nas mais emblemáticas provas dói sul do país, que por essa altura já se tinham multiplicado um pouco por todo o lado, Aljustrel, Rio de Moinhos, Canhestros, Aldeia do Sete, Sines, Alvalade, Ferreira do Alentejo, Portimão, etc, etc,,,,, por todo o lado havia corridas desde género para gáudio de todos em especial dos amantes dos rallyes.
Eu próprio e o Ludjero começamos por adquirir um Renault 9 1.4 GTL, que rapidamente “descascamos” e preparamos com os devido Roll Bar e demais acessórios obrigatórios, mas o meu sonho era correr de VW Golf GTI MK1, e tão rapidamente como iniciamos a inusitada sociedade, assim a desfizemos, ficando o Ludgero com o Renault 9.
Rapidamente adquiri um velhinho VW Golf GTI 1.6 MK1, que a bem da verdade já caia de podre.
Meti mãos à obra, o carro foi descascado e preparado ao pormenor, estávamos em 1996 e as corridas multiplicavam-se, eu não via a hora de me estriar ao volante do meu MK1.
A estreia deu-se em Rio de Moinhos, a 8 de Setembro de 1996, mas o carro ainda estava muito “verde”, faltava-lhe as suspensões e corri com umas suspensões mais altas provenientes de um MK2, é claro que o carro mais parecia um canguru que outra coisa, no final de contas deu para aprender muito e ganhei uma taça de 6º lugar, a primeira de muitas.
Em meados de Outubro ou Novembro de 1996, houve o rally Cidade de Beja, prova já mais a sério e com uma organização na sério, mas eu não tinha carro, estava a aguardar pelas suspensões Bilstein entretanto encomendadas.
Acompanhei o Ludjero no seu Renault 9, mas não sabíamos bem no que se íamos meter, chegamos tarde e a más horas, aquilo tinhas regras próprias e os horários eram para se cumprir, o Renault apenas tinha um banco, o do condutor, não utilizávamos co-piloto em autocross, mas aquele era um rally por troços e por isso a organização fez vista grossa e mandou o Ludgero fazer “condução à vista”.
Feitas as contas foi chegar , descarregar o carro, inscrever e alinhar na grelha de partida, tudo na hora.
A prova era constituída por dois troços de classificação, percorridos 2 vezes, num sentido e noutro.
Inscritos deviam ser mais de 20, seguramente, e o Ludjero com o seu Renault 9 de origem “conduzindo à vista” fez um excelente 6º lugar final para inveja e desagrado de muitos que máquina superiores faltavam-lhes o “Kit de Unhas”.
Em Dezembro de 1997 o meu MK1 estava pronto, suspensões Bilstein grupo N, fantásticas, foram estreadas em Ermidas numa prova de má memória pois chovia e a lama obrigou a um esforço suplementar da caixa de velocidades e diferencial, obrigando mesmo a partir a caixa, literalmente, com os carretos do diferencial a saltarem para fora.
Nada de mais, apenas o trabalho de encontrar outra caixa suplente, o que consegui em Portimão, aliás, nesse dia, para alem da caixa de velocidades, passei pelo Rogil e trouxe um motor, uma caixa, transmissões, apoios, braços, cubos, tirantes, coluna e mais uma imensidão de peças suplentes que me iriam ser de grande utilidade no futuro.
Por esta altura já Humberto Gonçalves, amigo de longa data e entusiasta como nós, pensava em adquirir também o seu próprio carro de competição, e a escolha recaiu num Honda Accord 1.6 de 1981, mas cujo motor se revelou insuficiente para os desafios exigidos.
O carro foi completamente revisto e refeito, e uma nova motorização foi adquirida, proveniente de um Rover 216 GTI acidentado, cujo o motor foi retirado assim como toda a parte eléctrico/electrónica e cujos trabalhos de adaptação estiveram a cargo do sempre prestável e grande amigo António Fontainhas, o nosso Fontainhas.
Em meados de Fevereiro de 1997, numa das nossas tertúlias nocturnas, o Ludjero teve a ideia repentina de atirar para ar: E se fizéssemos um rallye em Colos? E porque não? Na altura pertencíamos à Sociedade Recreativa Colense,, eu e o Pedro, e se a memória não me trai, o Humberto também., o que era meio caminho andado para a realização do evento, com as receitas a reverterem para a colectividade. Das palavras aos actos foi um ápice, embora tivéssemos a forte resistência dos demais membros da direcção e corpos gerentes da SRC, mais conservadores e muito adversos a despesas sem retorno garantido.
É claro que um evento desta natureza tem despesas iniciais, avultadas, mas com a clara certeza de retorno mediático e monetário, haja cabeça, (carolice), vontade e certeza do que se está a fazer.
Os preparativos começaram cerca de 2 meses antes, com a procura do terreno ideal, que foi encontrado a 2 km da Vila, na ponta sul da Herdade da Ferraria, era o sitio ideal, porque estava vedado e apenas tinha um acesso, logo todos tinham de por lá passar, obrigatoriamente. Podíamos assim colocar a bilheteira e tratar dos estacionamentos nos terrenos contíguos
O próximo passo foi realização da pista propriamente dita, porque o terreno apenas não nos servia para nada.
Para isso foi pedido o auxilio da Senhora Presidente da Junta de Freguesia de Colos da Altura, Sra. Felicidade, que foi de uma exemplaridade e simpatia inexcedíveis, tratando de falar com a Câmara Municipal para a cedência de uma máquina Moto niveladora e assim podermos iniciar e acabar a pista de autocross de Colos, trabalhos que ficaram concluídos num final de semana sempre sob as minhas indicações, de salientar aqui o excelente trabalho do maquinista, incansável na boa execução dos trabalhos por mim indicados no terreno, o meu obrigado a ele. Tendo terreno a data escolhida foi 27 de Abril 1997, um Domingo que se esperava soalheiro e concorrido a terras da Ferraria. De seguida precisávamos promover o mais possível o evento, através de publicidade e divulgação, e procurar parceiros comerciais e sponsors que pudessem injectar dinheiro na realização do evento.

Para isso foi delineada uma linha de acção que passava pela realização de cartazes publicitários onde aparecessem, para alem do programa do evento, todos os nossos patrocinadores, dando assim visibilidade e retorno a todos os que em nós acreditaram.
A data estava escolhida, os cartazes delineados, a publicidade procurava-se, e de Colos a Odemira, do Cercal a Beja, conseguimos mais do que esperávamos, preenchendo todo o cartaz e sobrando para outras coisas.
Tivemos a ideia de tentar encontrar um patrocinador da grelha de partida, com direito a bandeiras e tudo, publicidade e visibilidade máxima por um preço superior.
Encontrámo-lo no Novo Stand, empresa recente sediada em Cercal do Alentejo, de compra e venda de automóveis e em franca expansão, que apostava muito na altura em divulgação e publicidade, foi a cereja no topo do bolo.
Firmamos um acordo, num jantar de boa memória, onde eu próprio e o Pedro Gonçalves, juntamente com os responsáveis do Novo Stand, nos comprometíamos a ceder todo o espaço envolvente à pista de autocross para colocação de automóveis novos e usados e a publicidade da grelha de partida, assim como a colocação de bandeiras em todo o espaço da pista, tudo isto por um valor que ultrapassou as centenas de contos na altura ( alguns milhares de euros na moeda actual), para dois “gaiatos” de vinte e poucos não foi assim tão mal
O dia 27 começou mal, chovia, eu nervoso, acusei a pressão e quase que me ia abaixo (acho que fui ainda por alguns momentos), não que a chuva atrapalhasse muito o autocross propriamente dito, mas retirava público e isso retirava receita, a nossa principal preocupação depois do forte investimento.
No final de contas o dia melhorou, os concorrentes apareceram e o publico compareceu em massa, o único senão foi a escassez de pilotos à partida, apenas 16 pilotos repartidos por 3 classes, mas o espectáculo, esse estava assegurado.
A GNR foi devidamente avisada, tínhamos seguro de prova e tudo estava de acordo com a lei da altura, pelo menos que nós soubéssemos
Com o acordo da GNR e sob sua escolta todos os automóveis de competição puderam dar uma volta dentro da localidade, coisa inédita e talvez nunca mais vista por estas bandas, o barulho era infernal, escapes livres, aranhiços, pneus a chiar, derrapagens, tudo o que se possa imaginar numa situação destas, e com o aval e escolta da GNR, façam lá melhor se conseguirem…..

A prova desenrolou-se de maneira normal, apenas uns sacanas de uns algarvios malucos num Nissan Sílvia saíram fora de pista propositadamente assustando os presentes mas rapidamente postos na ordem pela GNR, nada mais a assinalar neste dia excelente, com muito público entusiasta por este tipo de corridas.
Nem vou falar em vencedores ou vencidos, o que interessou mesmo foi ter a uma ideia, desenvolve-la e coloca-la em pratica, executando-a de forma exemplar e angariando uma boa verba monetária para a nossa colectividade, afinal era isso que importava, divertir-nos e ajudar o nosso clube da melhor forma possível.
É claro que isto tudo meteu uma boa, grande, dose de carolice, eu próprio e o Pedro Gonçalves, como responsáveis máximos, do “alto” dos nossos vinte e poucos arriscamos muito, mas mostramos que é possível quando se acredita.
Só para terem uma ideia do trabalho que deu a preparar tudo eu e o Pedro tiramos a semana antes da data apenas para tratar de tudo o que fosse necessário, abdicando dos nossos dias de trabalho em prol do clube, enfim, coisas raras hoje em dia e talvez estranhas à maioria. Outros autocrosses se seguiram, nova data foi marcada para 14 de Setembro de 1997, e esse sim foi um grande sucesso, com mais publico e muitos mais concorrentes, cerca de 70 carros inscritos e muita receita de bilheteira e inscrições e bar, outros tempos, outras vontades, outras deposições.
O ultimo dos autocrosses que se devia ter realizado foi proibido pelas autoridades competentes, Governo Civil e GNR, talvez por excesso de fama e excesso de divulgação, começamos a ser tão bons e a ganhar tanto dinheiro que alguém tinha de nos parar ou ganhar também alguma coisa com isso, optaram pelo encerramento da pista e organização porque de chulos estávamos fartos, mas mesmo assim, sem se realizar, deu lucro
15 anos se passaram, 15 anos mais velhos, 15 anos de sonhos desfeitos, de amarguras, de desilusões e inimizades, 15 anos para pior, 15 anos de regressão onde a única coisa positiva foi a compra da antiga padaria, possível ainda muito devido ás centenas de contos angariados pelos tais autocrosses duvidosos e mais três mil contos angariados numa conversa tida por mim com o vereador da cultura e desporto da altura, outros tempos, outras vontades, memórias perdidas porque a memória do homem será sempre curta.


Obrigado a todos aqueles que comigo percorreram aquela estrada, naquele tempo onde a vida ainda nos parece gloriosa, maravilhosa e divertida e me ajudaram a crescer, sonhar e viver.
Ao deixar aqueles tempos para trás, percebo o que fiz do meu caminho, como é bom sentir medo e ter com quem que me encorajar, tendo, a cada momento, mais razões para agradecer a vitória conseguida.
Foi aquela idade inquieta e duvidosa, que não é dia claro e já é alvorecer; entreaberto o botão, entre fechada na rosa, um pouco de menino, um pouco de homem.

Obrigado a todos os que comigo trilharam este capitulo da Sociedade Recreativa Colense e da história da Vila de Colos. A memória é curta mas vive naqueles que a recordam!

Obrigado especial ao Pedro Gonçalves, ao Ludjero Loução e ao Humberto Gonçalves, que juntamente comigo, sempre acreditaram que as coisas podem ser diferentes quando um homem quer, e querer é poder!
Obrigado pessoal