Ora esta é uma oportunidade perdida em muitas vertentes, atrevo-me a dizer que esta feira era uma das maiores realizações e ajuntamentos populares do interior do concelho de Odemira, e foi deitada ao abandono por parte dos responsáveis locais ao longo dos anos, numa imobilidade desesperante.
Tratava-se de uma das mais antigas feiras da região. Antigamente, a feira de São João em Colos juntava feirantes e populares de toda a região e arredores, mas a realização da feira, tal como estava, na Eira da Lagoa, não era viável. Ao logo das décadas, e com a expansão urbanística local, sempre para poente, a feira passou do exterior para o interior da vila, com todos os problemas a isso associados, as ruas eram cortadas e sitiadas, as portas bloqueadas, os quintais ocupados e a estrada nacional condicionada, as pessoas tinham medo e todos os anos havia confusão e desacatos entre feirantes, ciganos, população e GNR, era quase uma anarquia durante alguns dias, com a GNR a ser tolerante demais e alguns populares a ficarem à beira de um ataque de nervos.
O primeiro grande golpe para o desaparecimento da feira tal como era, num passado mais ou menos distante, foi o encerramento da feira do gado, nos princípios da década de 90, e com isso mais de metade da feira desapareceu praticamente de uma ano para o outro. Era uma feira dentro da feira, talvez até maior que a própria feira em si, era a feira original e antiga, uma feira de gado que atrás de si arrastava uma multidão, que juntou e arrastou tudo o que vemos hoje numa feira mas sem o gado, e transaccionavam-se, sobretudo, fora o gado, produtos hortícolas e produtos artesanais, numa fase posterior vieram os texteis e o calçado, mais tarde apareceram as diversões em massa, ocupando também uma grande fatia da feira. Tudo isso, actualmente, desapareceu, ficando apenas alguns dos produtos hortícolas, os texteis e o calçado.
A solução teria sido, primeiro definir uma data certa para a sua realização, sempre por volta do S. João, mas coincidindo num fim de semana, e depois encontrar um terreno próprio para a realização da feira, com iluminação, saneamento e ordem, tal como vemos em todo o lado onde havia feiras com a dimensão da nossa, podendo então evoluir para uma promoção cultural e social do evento, aproveitando a data e dimensão criados pelos anos. O que escrevo não tem nada de especial, foi o que aconteceu na esmagadora maioria das feiras populares em Portugal, e temos alguns exemplos bem perto de nós, dentro do próprio concelho, como é o caso da FACECO, em S. Teotóneo, que é directamente herdeira das festas locais, sendo a data da sua realização depois mudada com a consolidação como Feira das Actividades Económicas e Culturais do concelho de Odemira, ou a Santiagro em Santiago do Cacém, ou a Feira do Campo Branco em Aljustrel, etc. Podem dizer: mas isso são capitais de concelho, sim, são, mas temos também, bem perto, o exemplo de Garvão, que era igualmente uma importante Feira de Gado, numa uma povoação idêntica a Colos, e deu lugar a uma moderna feira cultural e económica, melhor exemplo não existe.
Colos deixou fugir o protagonismo para as Amoreiras-Gare e Garvão. Nas Amoreiras-Gare, pela mão de uma associação jovem e ambiciosa, e em pouco mais de uma década, conseguem realizar uma festa anual com estatuto de feira do interior do concelho de Odemira, com todas as implicações política, sociais, culturais e económicas que isso acarreta, ganhando visibilidade e referências públicas importantes para uma terra pequena. É assim que se faz e dou os meus parabéns ás Amoreiras-Gare pela sua tenacidade e inteligência.
Em Garvão, pela mão dos reponsáveis locais a feira não morreu nem definhou, evolui-o e com o apoio da câmara de Ourique é actualmente uma das montras do concelho vizinho.
Numa fase de abandono e desertificação do interior alentejano é muito triste ver uma feira como a de S. João em Colos desaparecer, ver a minha terra perder mais uma realização, mais uma oportunidade, ver os responsáveis locais de joelhos perante a déspota municipal.
Os milhões gastos na aberrante reconversão da Eira da Lagoa, transformando-a num jardim de betão, não valem afinal a mudança, nunca pensei dizer isto mas afinal, assim, tenho saudades do tempo anárquico da antiga feira.
Foi neste quadro que o agrupamento de escuteiros de Colos realizou mais uma vez a festa de S. João em Colos, mais conhecida pelo Arraial dos Escuteiros, que desde há alguns anos a esta parte tem vindo a fazer parte das organizações do agrupamento e é a única "festa" anual que se tem conseguido aguentar em Colos sem interrupções, mesmo que tenha diminuído em expressão e reduzida no seu formato, mais compacta, é uma realização a louvar e a apoiar nesta altura de convulsões sociais e culturais em Colos, e numa altura por excelência para as festas tradicionais.
Quando uma determinada parte da população, eu incluído, esperava ver realizações semelhantes, ou melhores, por parte da Junta de Freguesia ou da Sociedade Recreativa Colense, são os "gaiatos" dos escuteiros que lhes dão uma bofetada e fazem o que podem no marasmo local.
A festa nada teve de novo, temia-se até que fosse um fiasco, os últimos anos foram maus, com a qualidade a cair e a afluência de público a ser diminuta, mas este ano houve uma inversão e regista-se para a memória uma bela noite com muita gente na rua e a visita de muitos forasteiros.
Durante a tarde foi organizado um concurso de tiro ao alvo com carabinas de pressão de ar e à noite houve baile e cantares alentejanos.