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quarta-feira, 31 de março de 2010

A minha escola de sempre

Na minha terra havia uma escola primária, antigamente chamada de escola feminina, dois pisos, dois pátios cobertos, terreno circundante, construção “sui generis”, inigualável, não era igual nem parecida á matriz arquitectónica das escolas típicas do Estado Novo, período quando foi construída, em termos técnicos não sei se era bonita ou feia, mas para mim era a mais linda, hall de entrada, duas salas, uma em cada piso, sala de trabalhos manuais, casas de banho com espaço para serem alteradas e ampliadas se fosse necessário, cantina, anexos, etc….
Situada no sitio mais elevado da terra, juntamente com a capela e a igreja, era bem identificada, as suas três janelas em semicírculo com caixilhos de madeira e envidraçadas, um ex-libris da terra, eram rapidamente reconhecidas pelos Colenses e pelas centenas ou até mesmo milhares de condutores e passageiros que através da Estrada Nacional atravessam e circundam quase por completo a minha bela localidade.
De fronte, uma entrada com arcadas dava acesso ao pátio anterior á entrada, por cima, três janelas rectangulares, por baixo das janelas, bem visível, gravado a fundo na cantaria, pintadas de preto sob a cal branca das paredes a inscrição “Escola Primária”, inimitável, inigualável, inesquecível, como se ali para sempre fosse o sitio onde dezenas de gerações aprenderiam a ler e a escrever, a fazer contas, a crescer educados.
Soalhos de madeira, escada de madeira antiga, corrimão envolvente e polido pelas milhares, milhões de vezes que mãos que o percorreram, quer para cima quer para baixo.
Esta era a minha escola, ou melhor, foi a minha escola, mas para sempre seria a minha escola, recordada como tal, foi a de meu pai e seria a do meu filho, onde tantas gerações de Colenses aprenderam as suas primeiras letras, os seus primeiros números, a sua educação básica, o que equivale dizer que comparado com o que se ensina actualmente, era bem melhor que o actual secundário.
Esta era a escola de todos nós, e digo era porque as “novas politicas” de educação determinaram e decidiram que as novas exigências educacionais já não eram compatíveis com as condições oferecidas pelas instalações da velhinha escola primária. E isto para mim é, no mínimo, discutível!
Porquê? Pode-se perguntar, os terrenos circundante tinha sido pavimentado, o edifício tinha sido pintado de novo não havia muitos anos….reconheço que é pouco, faltava mais manutenção, faltava a velha escola passar por uma profunda intervenção, das fundações ao telhado….mas então porque não se avançou para essa solução? Porque não se fez um projecto de remodelação e se avançou para obras? Não, em vez disso as três emblemáticas janelas superiores foram emparedadas e tapadas com tijolos, ficando o edifício, naquela altura, a parecer uma sinistra prisão, actualmente essas janelas de madeira foram substituídas por caixilhos de alumínio, que continuam a ser igualmente aberrantes.
E porque razão entregar o edifício á Cruz Vermelha? Nada tenho contra a Cruz Vermelha, para que não hajam dúvidas, e muitos vão-me condenar, mais uma vez, por esta opinião, mas não havia mais opções a ponderar? Porque não uma biblioteca, um cineteatro, um museu, certamente haveria mais ideias, mais projectos a discutir.
E depois porque razão se decidiu pela construção de uma escola primária nova dentro do recinto da actual Escola EB 2+3 e já a meio caminho do Vale Rodrigues?
Será que a verba disponível para a construção da nova escola não podia ter sido usado na recuperação da velha escola primária? Será que os 200.000,00 euros, ou lá quanto custou a construção da nova escolinha, não serviam ou chegavam para recuperar o antigo edifício da velha escola? Dotá-la de tudo o que era necessário para o fim a que se destina, ou seja, ensinar e educar?
Ao que parece, e seguindo a politica do chefe máximo da Nação, Sócrates, é importante apagar a memória colectiva, é importante obliterar anos e anos de convívio no mesmo espaço, brincadeiras, zangas, jogos, aulas, testes, notas, ilusões e desilusões.
Pergunto eu, isto é ou não passar um atestado de imbecilidade e estupidez a todos os antigos alunos da velhinha e antiga escola?
Porque razão se torna tão objectivo o esconder o passado, quantos de nós jogaram ali á apanhada, a berlinde, ás escondidas, ao pião, a funcho, na lama, á chuva, ao frio e ao vento, e não estamos cá todos homens e mulheres fortes e educados?
Penso que sei que estas são actividades não praticadas na nova escola, não devem constar no “programa educacional” do (des)governo pinócrates/PS
Pode-se mesmo dizer que todas estas brincadeiras e jogos tradicionais estão extintos ou para lá caminham, ultrapassadas pelo tempo voraz da era dos computadores, pessoais e individuais, inúteis, …….playstations e jogos de PC de onde se passou directamente do berlinde e do rodopiar do pião para jogos com os sugestivos nomes de Street Combat, Street Fight, Mortal Combat, Evil Dead, etc, etc…….onde os tiros virtuais, morte, guerra e violência gratuitas passam a fazer parte da educação dos novos tempos.
Será as inócuas aulas de ginástica melhores que as intermináveis corridas dos jogos da apanhada ou escondidas? Ou os computadores melhores que os jogos de berlinde ou pião?
Não são, nunca serão porque fora do recinto da escola o mundo continua a ser o mesmo, com a diferença de ser muito mais perigoso, mas as respostas continuam a não existir, muda-se a forma e o conteúdo, mas a vida real continua difícil, mais difícil e exigente, e as nossas crianças não estão a receber a educação nem a formação correcta e adequada para enfrentar de futuro esses novos desafios e dificuldades!
Uma nova escola precisava-se, mas não um novo edifício num novo lugar, o que precisávamos, e vamos continuar a precisar, é de uma nova politica educativa orientada para a construção de um Portugal novo, remodelado, portador do peso histórico, desafiante e combativo, exigente e incorruptível, tradicionalista e orgulhoso do seu glorioso passado.