O jornal Costa a Costa, na sua edição de Dezembro, dá destaque nas suas páginas centrais ao 75º aniversário da Sociedade Recreativa Colense.
A este propósito foi pedido a este vosso escriba que passasse ao papel algumas palavras sobre a história da SRC.
Embora com muito pouco tempo para tentar aprofundar o tema e tentar saber mais sobre a real história da SRC e seus protagonistas, tentei dar em poucas palavras uma perspectiva dos 75 anos que se assinalam, falando dos períodos, factos e acontecimentos mais importantes nesta colectividade que é uma das mais antigas do Concelho de Odemira.
É esse texto publicado no jornal Costa a Costa, de minha autoria, que aqui vos deixo hoje:
A Sociedade Recreativa Colense completou no passado dia 15 de Novembro 75 anos de existência. Efectivamente foi nesse longínquo dia de 1934 que um grupo de notáveis Colenses fundou a colectividade que tem sido um farol da nossa terra ao serviço da cultura e do desporto na freguesia de Colos.
A data da fundação, 1934, não deve estar alheia à nova constituição da República portuguesa, datada de 1932, onde a consolidação da ideia de nação em Portugal, o centro da política cultural do Estado Novo, ficaria a cargo de uma instituição governamental, o SPN, Secretariado de Propaganda Nacional, criado em 1933 e dirigido pelo então jornalista António Ferro. A cargo deste secretariado ficava a árdua tarefa de, nas palavras de Salazar, "elevar o espírito da gente portuguesa no conhecimento do que é e realmente vale, como grupo étnico, como meio cultural, como força de produção, como capacidade civilizadora, como unidade independente no concerto das nações; clamar, gritar incessantemente o que é contra o que se diz ser; repor constantemente coisas no terreno nacional, referi-las sempre à nação…”
Esta política durou até ao final dos anos 40 e ficou conhecida como "política do espírito". Nos anos 30 e 40 o Estrado Novo apresentava uma frescura e um entusiasmo próprios de um Regime que acabava de chegar ao poder e isso reflectia-se em todos os aspectos culturais do país, das cidades às aldeias, no cinema, no teatro e também nas novas associações recreativas que comungavam dos mesmos valores morais e até político.
Em 1957 a Sociedade Recreativa Colense sofre uma reestruturação através um novo grupo de sócios, uma espécie de refundação, digo eu, e muito gostaria eu de saber mais sobre esse período, aliás, toda a história da SRC carece de ser estudada e escrita com o maior rigor possível, é um trabalho que necessita de ser efectuado o mais rápido possível, enquanto alguns dos protagonistas ainda se encontram vivos e sob pena de se perder para sempre no tempo toda a sua real e verdadeira história.
Existem fotos deste período mas não se sabe muito bem o contexto nem o que representam as fotos, existe também a acta dessa data onde constam os nomes dos sócios presentes.
Contam os mais velhos que antes do 25 de Abril, no antigo regime, aquela era uma casa de respeito, onde a entrada era seleccionada e onde se retirava o chapéu para entrar, imagino eu que seria um espaço austero, de tertúlia entre uma determinada classe social de Colos, a pequena e alta burguesia e proprietários agrícolas, onde se jogava bilhar, xadrez e damas, e onde havia também uma pequena biblioteca, ainda existente, era também promovida a modalidade do futebol, existem algumas fotografias dessa altura ainda no antigo campo de futebol
Existente também até meados da década de 90, foi um pequeno palco situado imediatamente à direita da actual entrada e onde funciona agora o bar do edifício sede, a tudo isto não é estranho à vocação cultural e recreativa da SRC, não se sabendo se realmente essa vertente cultural era ou não aproveitada pelos sócios frequentadores.
No período pós 25 de Abril a SRC deve ter sofrido algumas convulsões próprias da época e do PREC, aparece uma nova designação, União Desportiva Recreativa Colense, UDRC, mais uma vez desconheço o porquê dessa decisão e os factores que levaram a tal.
Foi durante esse período que nasce o actual campo de futebol e balneários, sendo o terreno para o campo “emprestado” assim como o terreno dos balneários, que é outro e não pertence ao mesmo proprietário do terreno do campo de jogos, situações apenas compreendidas face aos ventos revolucionários vividos por essa altura em Portugal e que tudo permitiam fazer e decidir, por essas decisões erradas estamos hoje a viver um problema, onde, precisando os balneários de ampliação e o campo de obras, as mesmas não se podem efectuar porque não pertencem os imóveis à colectividade.
Por essa altura a SRC/UDRC tinha excelentes equipas de futebol, essencialmente constituídas por jogadores oriundos de Sines, e disputava o campeonato distrital da INATEL com grandes resultados. O campeonato por essa altura era jogado em todo o distrito, e não apenas regionalmente como é hoje, e por isso a equipa tinha deslocações longe neste imenso Alentejo, recordo com saudades as deslocações a Vale de Vargo e Vila Nova da Baronia, por exemplo, apenas para referir algumas.
Nos anos 80 a SRC continua progressivamente a ser um pólo aglutinador da juventude, com o futebol sempre à cabeça, continua a militar na INATEL mas com equipas mais modestas, serve-se o propósito de ocupar os Domingos à população e retirar os jovens de caminhos desviantes, a equipa de 19888/89 acabou a década da melhor forma com a conquista do primeiro lugar da série onde estavam inseridos, mas o êxito foi ainda maior porque a equipa era constituída por rapazes genuinamente colenses, era uma equipa totalmente composta pela “prata da casa”, o que tornou o feito memorável e a data registada e relembrada sempre que se fala do futebol da SRC dos últimos 35 anos.
Ainda durante a década de 80, a SRC, continuando a sua vocação cultural e recreativa, cedia periodicamente a sala da sua sede para exibições de cinema ambulante, permitindo assim a muitas crianças, jovens e adultos o contacto regular com o cinema, se bem que os filmes nem sempre fossem os mais indicados, culturalmente falando, mesmo assim um facto a assinalar na história da SRC.
Por esta altura também a direcção então em exercício consegue concretizar a compra da casa onde sempre funcionou a sede da SRC e colocar tudo legalizado e em nome da SRC, abrindo assim caminho às tão ambicionadas obras que a antiga casa necessitava, iniciando assim a década de 90 com novos horizontes a conquistar.
Lamentavelmente o estado da sede era realmente mau e a SRC, sem dinheiro para obras imediatas, e sem direcção para assumir o rumo, fecha portas por um período indefinido.
Não posso precisar as datas de fecho e depois de reabertura, foi tudo no inicio da década de 90 e a SRC esteve fechada alguns anos até que um grupo de sócios decide reunir e formar uma comissão para efectuar obras e reabrir as portas, coisa que se concretiza depois de a casa ter sido alvo de uma quase remodelação, foi colocado um novo telhado, uns novos soalhos, acabou-se com o já falado palco e mudou-se a localização do bar, construíram-se novos sanitários e reparou-se as paredes exteriores e interiores.
Ao longo de toda a década de 90 o futebol continua a ser o desporto de eleição, com a equipa da SRC a conquistar mais algumas vezes o primeiro lugar das séries que disputava, mas outras modalidades já fizeram parte da história desportiva da associação, por exemplo o ciclismo em meados da década de 60, e neste final de século XX a SRC volta-se para a promoção de outras actividades desportivas, não só como forma de promover e proporcionar a todos os associados e atletas uma variedade mais alargada de diversão e distracção, mas também como forma de angariação de fundos monetários sempre escassos e necessários neste tipo de associações. Devido a alguns sócios terem actividade e entusiasmo em desportos motorizados surge em 1997 a ideia de organizar algumas provas de autocross que foram um verdadeiro sucesso, quer a nível desportivo, quer a nível financeiro, a SRC expandia assim a sua vertente recreativa e desportiva.
Com a chegada do novo milénio o SRC continua o seu caminho, o importante, sempre, é manter a sede aberta e a funcionar, e por esta altura surge a oportunidade de compra do edifício em ruínas que gemina com as traseiras da casa da sede e onde funcionava uma padaria que entretanto tinha encerrado, como as verbas próprias da SRC não chegavam para cobrir o preço pedido pelo proprietário pede-se apoio financeiro à Câmara Municipal de Odemira para que não se perca este ensejo único, depois de uma reunião o tão desejado apoio é disponibilizado e a SRC consegue assim efectuar a compra do edifício/terreno, e sonhar assim com a ambicionada ampliação/construção de um novo edifício sede.
Já em 2009, com a eleição de uma nova e dinâmica direcção, a sede SRC é de novo alvo de algumas necessárias obras de remodelação e conservação e abre as portas para mais dois anos de actividade, coincidindo com o 75º aniversário, organizando-se as comemorações possíveis para a altura e com o escasso tempo disponível, e surgindo mais uma vez a ideia de algo diferente decide-se avançar para a realização de um passeio TT aberto a Jipes, motos e quads, e mais uma vez o acontecimento foi um sucesso e a aposta ganha, tendo a espectacularidade da Natureza como companheira omnipresente, a 1ª edição do Passeio TT da SRC atraiu a Colos um número elevado de visitantes, cerca de 75 veículos e mais de 100 pessoas envolvidas efectuam os 120Km de percurso que passou por caminhos e trilhos onde as paisagens deslumbrantes, a aventura e a adrenalina fazem as delícias de todos os participantes que levam de Colos e da SRC a melhor imagem possível, de rigor e organização.
Com os olhos postos no presente mas nunca esquecendo o passado para poder projectar o futuro da melhor forma, a SRC actual é sinónimo de juventude, desporto, cultura e diversão, local de aglutinação dos jovens de Colos, devia ser olhada, sempre, pela Junta de Freguesia e pela Câmara Municipal de Odemira, como um parceiro indiscutível na contínua promoção e realização de actividades que possam reunir a população em torno de ideais comuns de diversão e recreação destinadas as novos e menos novos, a todos sem excepção, às crianças, aos jovens, aos trabalhadores, aos idosos e aos visitantes e forasteiros que nos visitam.
Para o novo ano que se inicia as ambições renovam-se, prevê-se a realização de novos e inéditos objectivos na área da cultura, mas também na área do desporto nas suas variadas vertentes, sendo o futebol uma das áreas onde a SRC quer de novo vencer e convencer.
Para isso muito se deseja a construção de novos equipamentos, como um novo e funcional campo de futebol, com novos balneários e iluminação, realização que se prevê concretizada num curto espaço de tempo segundo as promessas dos responsáveis da Câmara Municipal de Odemira.
A construção de um novo edifício sede também deve ser ambição e objectivo a médio/longo prazo, devendo para isso a SRC delinear uma estratégia que envolva as mais diversas forças vivas da terra, assim como a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal, entidades cujo apoio é sempre imprescindíveis para a realização dos mais diversos projectos e ambições da SRC e dos seus amigos e sócios.
Fernando M. Fraquito