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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Realidade cultural local, ou a falta dela!


A valorização e protecção do património etnográfico e rural, bem como o conhecimento das coisas do passado devia ser encarado como algo indispensável para a auto-estima de qualquer população autóctone e devia ser também motivo de orgulho. Tornar essas coisas do passado, o chamado património, que muitos falam mas poucos sabem o que é, conhecido e acessível ás próprias populações locais, assim como aos visitantes e turistas, devia ser prioridade das instituições oficiais em articulação com os proprietários privados detentores desse mesmo património.
Estive recentemente em alguns lugares muito interessantes onde tive contacto com projectos simples, mas bem elaborados e concretizados de protecção do património colectivo desses mesmo locais, e que reavivou algumas interrogações na minha cabeça acerca da actual realidade cultural local da freguesia de Colos e do concelho de Odemira, ou, neste caso, para a falta dela.
Visitei o Museu do Trabalho Rural na Abela, o Museu da Ruralidade em Entradas e o Museu da Farinha, em S. Domingos, e se conhecerem as localidades que referi, a comparação com Colos torna-se evidente, são sítios pequenos, rurais, interiores e com pouca população.
Colos tem memória, tem passado e história, e tem algum património, estou a recordar-me de uma exposição que se fez no casão da junta de freguesia há alguns anos atrás, onde se conseguiu reunir rapidamente e quase a titulo de brincadeira, algumas peças bastante interessantes, de entre fotografias, peças agrícolas antigas, rendas, máquinas e utensílios, apareceu de tudo um pouco.
Recordo também que Colos tem potencialidades ao nível da arqueologia industrial através da conservação e valorização do antigo Lagar de Azeite da família Carlos Júlio, que encerrou a laboração há alguns anos atrás mas que mentem intactas todas as máquinas e processos de trabalho de um lagar antigo. Este lagar de azeite, agora em mãos privadas, podia muito bem ser um pólo cultural na freguesia de Colos, se as suas instalações fossem restauradas e convertido num futuro museu do azeite, por exemplo. O actual proprietário tem mantido tudo intacto como estava na altura da sua paragem, o lagar esta completo, e tem disponibilidade para entrar em acordos, falta apenas a vontade politica de um município que parece não ter qualquer sensibilidade cultural, basta ver que o concelho de Odemira é um município sem museus, nem municipais, nem locais, nada, é um deserto no que à conservação do património diz respeito. Provavelmente porque a cultura não dá votos!
Penso que antes que tudo se perca irremediavelmente, deveríamos salvar pela conservação, pela imagem e pela descrição o que ainda nos resta da astuta laboriosidade regional alentejana!