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terça-feira, 14 de setembro de 2010

A escola nos novos tempos

Agora não choram os filhos, choram os pais

Com esta frase começo por descrever a actual situação escolar no Portugal de Sócrates, esse individuo que, definitivamente, não vive no mesmo país que os restantes portugueses.
O fecho de centenas de escolas configura um grave crime contra o interior. Em nome de errados critérios economicistas, dificulta-se a vida a quem ainda vive no interior cada vez mais desertificado e faz-se um convite a que os casais jovens abandonem as suas terras ou não queiram ter filhos.
Na Educação, a mentalidade economicista não pode sobrepor-se às necessidades de Portugal. É preciso denunciar, pois, o fecho de escolas pelo “crime” de terem menos de 20 alunos, por que razão têm os alunos e suas famílias de responder pelas políticas desastrosas, desde e de outros governos, que conduziram à desertificação do interior e à quebra assustadora do crescimento demográfico?
Estamos a viver uma revolução criminosa no ensino básico, sem precedentes, e para pior, claro, que isto de revoluções geralmente nunca é para melhor.
Na província o actual governo prepara-se para encerrar sem piedade a maioria das escolas básicas por todo o país e reunir os alunos em mega-agrupamentos escolares, frios, desenraizados e descaracterizados, sem história nem tradição, onde os alunos serão arrancados dos seus meios rurais ou habitacionais e enfiados à força em edifícios enormes longe dos seus lares. Isto é um crime contra o interior!
Numa análise muito pessoal penso que isto está profundamente errado, por diversas razões, não só de carácter puramente educacional mas também social, económico, afectivo, etc.
Para começar, fechar escolas de província, seja onde for, contribui logo para uma maior desertificação e desumanização das áreas rurais, sem uma politica anti-desertificação concertada e eficaz o interior definha e morre, como alguém já disse, uma terra onde fecha farmácias, posto da GNR, escolas, tabernas, etc, é uma terra condenada a morrer, e é mesmo isso que o governo central, com o apoio das câmaras municipais, está a fazer um pouco por todo o país, este ano com a desculpa do fecho da maioria das escolas que tinham menos de 20 alunos, para os próximos anos o fecho da esmagadora maioria das escolas rurais, esperem para ver!
O dinheiro torrado em Magalhães e outras fantasias serviria perfeitamente para viabilizar as escolas condenadas.
Portugal rural e interior, a província, não é a cidade grande, ao contrário do que os técnicos cegos do governo pensam nem todos querem viver na urbe ou adquirir os seus hábitos e vivências.
Arrancar crianças entre os 6 e os 12 anos das suas camas, muitos ainda de madrugada, enfiá-los em autocarros escolares, sabe-se lá em que condições, para fazerem dezenas de kilómetros, por estradas em mau estado de conservação, depositá-los em mega escolas desumanas, com outras centenas de crianças de outros tantos lugares longe, para passarem cerca de oito horas juntos, voltarem ao final do dia novamente nos mesmo autocarros e pelas mesmas estradas, para junto das suas famílias, chegando tarde e a más horas, para recomeçar tudo no dia seguinte, pergunto eu onde está a educação no meio disto tudo?
Como se isto não bastasse para reflexão, temos agora, e cada vez mais, as novas regras educativas, novas ideias, de idiotas, certamente, onde das sete horas e meia que as crianças passam na escola, apenas cerca de quatro e meia são empregues realmente na educação obrigatória, sendo as restantes 3 horas são gastas em “Aulas de Enriquecimento Curricular”, seja lá o que isso for.
E para os pais ficarem ainda mais preocupados, temos a novidade das viagens às piscinas de Odemira, para alem das viagens já pensadas em fazer a diversos lugares no país, em suma, uma rol de responsabilidades que a escola não deveria assumir.
Nunca a escola se imiscuiu tanto no papel que deve ser dos pais, nas tarefas que devem ser da responsabilidade dos pais, porque, como eu sempre digo, tudo corre bem até um dia correr mal.
“A infância tem direito a cuidados e assistência especiais”. É isto que defende o preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança e é este ponto que está longe de se tornar uma realidade.

O caso do agrupamento de Colos

Em Colos temos a sorte de ter a Escola Secundária, agora baptizada, e bem, de Escola Aviador Brito Paes, e por isso, ao invés de fechar-mos escolas, concentramos ainda mais alunos na escola básica vindos da agora extinta Escola da Ribeira do Seissal, elevando para mais do dobro a população escolar da escola básica de Colos, que fica assim com duas turmas e 29 alunos entre o 1º e o 4º ano de escolaridade.
Mas os últimos rumores dão conta da construção de mais salas, certamente a ampliação do actual edifício da escola básica, para receber nos próximos anos a restante população escolar do agrupamento vertical de Colos, ou seja, isto quer dizer que as actuais escolas básicas de Bicos, Fornalhas, Vale de Santiago, Aldeia das Amoreiras, São Martinho, Amoreiras e Relíquias têm os dias contados e deverão mesmo fechar no próximo ano ou seguintes, é a crónica de uma morte anunciada, é vergonhoso e desumano!
Os professores, esses, continuam afundados em burocracias, mergulhados num mar de papéis, perdidos por entre regras, sistemas, formulários, horários, etc, perdendo tempo precioso no que realmente interessa, a educação das crianças.
Para completar este quadro modernista temos a crescente preocupação paranóica com a segurança das crianças, mal enquadrada e mal dirigida, porque não sei o que é mais perigoso, se deixar as crianças ir à piscina em viagens da escola ou deixar as crianças fazer o caminho de casa sozinha? É uma dúvida que me assalta!
As nossas crianças deixaram de conviver fora dos recintos escolares, fecham-se em casa, desaparecem, não conhecem a aventura, o desafio próprio da idade, as salutares brincadeiras infantis fora de portas e fora da escola.
A escola em si, o espaço físico, tem carências, segundo os responsáveis não existem espaços cobertos exteriores para albergar a nova vaga de alunos, é verdade, a actual escola, inaugurada ainda recentemente não tem pátios e em dias de chuva os recreios são impossíveis.
Eu acrescentava mais, faz falta, para alem desses pátios, um passadiço coberto entre o edifício da Escola EB2+3 e o edifício da Escola Básica, para alunos, professores e pais poderem circular livres da intempéries. Faz também falta, pelo menos, mais uma auxiliar na escola básica, o número de auxiliares deve acompanhar o número de alunos, não basta apenas depositar os alunos nas escolas, devem ser protegidos e minimamente vigiados dentro do recinto escolar.