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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Colenses da História - António Brito Paes Falcão


Foi numa manhã de nevoeiro, em Abril de 1924, que António Brito Pães Falcão – juntamente com o eterno companheiro de aventuras, José Manuel Sarmento de Beires – descolou de Vila Nova de Milfontes no seu Breguet. A bordo do “Pátria”, partiu para aquela que foi, na altura, a maior aventura do mundo: ligar Portugal a Macau, no extremo oriente do globo, por via aérea. Afinal, a aventura foi sempre o tónico de António Brito Paes Falcão ao longo da sua vida. Nascido a 15 de Julho de 1884 em Colos, cedo enveredou pela carreira militar, servindo o exército português. Primeiro, em Moçambique e Angola, depois em França e na Flandres, durante a primeira Grande Guerra Mundial.
Romântico inveterado e pioneiro do risco, tirou o brevet de piloto e esteve umbilicalmente ligado aos primeiros passos da aviação militar em Portugal. Em 1922, sem autorização do ministro da Guerra, partiu a bordo do decrépito “Cavaleiro Negro” e tentou um voo directo à Madeira, orientado unicamente por uma bússola, mas o nevoeiro fê-lo cair ao mar, de onde foi resgatado por uma embarcação britânica. Os seus superiores censuraram-no por desobediência e louvaram-no por bravura. Cada vez mais afoito, seguiu-se a viagem até Macau, onde chegou a 20 de Junho 1924. Morreu a 22 de Fevereiro de 1934, da forma mais irónica possível. Depois de ultrapassar e sobreviver às maiores aventuras da época, António Brito Paes Falcão não resistiu a um embate de aviões, provocado por… encandeamento solar. O homem que, contra todos os azares e obstáculos, sobrevivera aos combates da Flandres, que escapara da aventura aérea do voo à  Madeira, que resistira à longa e perigosa viagem a Macau, perecia num estúpido embate de aviões. 
No dia 6 de Abril de 1935, o corpo foi transladado de Lisboa para Colos, em cujo cemitério repousa. À partida do préstimo, esteve presente outra glória da aviação portuguesa: Gago Coutinho. Nesse dia, segundo estimativas do periódico Vida Alentejana, afluíram a Colos mais de 10.000 pessoas, provenientes de todo o distrito. O mesmo semanário (dirigido por Pedro Muralha), chamou então a Brito Paes, em caixa alta, "um herói e um santo", significando a sua coragem física e moral, os seus feitos de armas, o seu pioneirismo aventuroso, a sua nobreza de carácter.
A magnífica epopeia destes dois pioneiros do principio do século não deve ser esquecida, a participação Portuguesa alcançou aqui uma posição de especial relevo. Destacaram-se, então, Brito Paes e Sarmento Beires, que com a sua coragem e dedicação realizaram notáveis feitos em prol da Aeronáutica e da Pátria, os quais melhor apreciaremos se tivermos presente os tempos difíceis que se viviam em Portugal e o limite dos recursos existentes.
 Temos nós, Portugueses, feito justiça a esse grupo de aviadores que iniciaram uma epopeia levando por ar a "CRUZ DE CRISTO" outrora orgulhosamente exibida nas velas que cruzaram os Mares ?

"Habitantes de um País pequeno, pobre e ignorado,
o culto do passado não é um pretexto
para nos envaidecermos com o que já fizemos,
e nos dispensarmos do trabalho de nos levar a fazer
mais alguma coisa…
Receando que nos chamem vaidosos, deixamos
na sombra o que já fizemos e que mais tarde vem
a ser atribuído aos outros…
Assim tem sido sempre, já mesmo no tempo antigo
das nossas descobertas oceânicas,
tão mal apreciadas, lá fora."


Almirante Gago Coutinho