Porque concordo a 100%, tomo a liberdade de transcrever, do jornal “A Ordem” um artigo do conhecido Dr. Daniel Serrão acerca do despropósito de certas praxes académicas que envergonham e não dignificam quem as executa e defende.
Afinal as chamadas "Praxes" são uma Integração ou um exercício de estúpidos idiotas?
Afinal as chamadas "Praxes" são uma Integração ou um exercício de estúpidos idiotas?
Quero dizer com isto que sou contra o que chamam praxe? De forma nenhuma. Sou absolutamente a favor de que os jovens que chegam pela primeira vez ao Ensino Superior sejam recebidos pelos estudantes mais velhos, com rituais de acolhimento e integração na nova casa onde irão viver e aprender durante 5 ou 6 anos. Acolhidos com brutalidades e boçalidades que até já ocasionaram risco de vida? Com humilhações que põem a nu a falta de carácter dos estudantes mais velhos? Com atitudes ridículas que dão uma imagem falsa do que é a dignidade do Ensino Superior? Com tudo isto a durar meses no início e mais meses próximo do final do ano lectivo? Claramente que não.
A integração só se consegue com atitudes de simpatia, que podem ser espirituosas mas nunca violentas e boçais. E que serão eficazes e intensas durante uma semana; mas que se tornam numa rotina sem qualquer valor quando se arrastam ao longo do ano. O jovem que chega ao Ensino Superior, politécnico ou universitário, traz uma imagem de um espaço e um tempo em que irá ascender a um nível superior de conhecimento e a uma preparação rigorosa para obter capacidades profissionais de grande responsabi1idade — vai ser médico, engenheiro, enfermeiro, economista, etc. E esta imagem que os novos esperam receber dos mais velhos, dos que já estão a meio caminho do seu percurso e que bem os podem ajudar a integrarem-se e a terem sucesso escolar. Uma semana com múltiplas actividades, preparadas com inteligência e sentido de responsabilidade pelos estudantes mais velhos, bastará para que o objectivo da integração amigável dos novos seja bem conseguido.
Não tem que ser formal. Deve ser descontraída, alegre e muito comunicativa, ocupando todo o dia e as noites com programas variados pensados e estruturados apenas pelos estudantes. Mas uma semana é suficiente.
Mas o que é que vejo, aqui, ao redor da minha casa? E que pode ser visto em outras partes da nossa Cidade do Porto: Bandos de jovens dominados e colocados em atitudes de humilhação por uns seres que se ju1gam superiores, por estarem vestidos com uma capa de estudante — que deverá ser vista como um sinal de qualidade e não de poder — que revelam toda a sua falta de carácter e de respeito pela autonomia e liberdade dos novos alunos; como se entrarem para a Universidade fosse uma situação da perda dos direitos de cidadania, às mãos dos ditos estudantes "doutores" que se comportam como energúmenos boçais e ignorantes.
Assisti, em plena rua, a um desses ditos "doutores" forçar uma jovem "caloira" a repetir frases com palavrões abjectos de cariz sexual. Ao fazê-lo o dito "doutor" apenas exprimia os seus complexos freudianos em relação à sexualidade pessoal mal assumida. Era digno de pena, embora o seu comportamento fosse de grande indignidade.
Tem de se encontrar uma solução boa. Que deverá partir dos próprios estudantes que, em vez de se vingarem, no ano seguinte, sobre os mais novos, do que sofreram, compreendam que há que romper com esta má tradição e encontrar práticas de acolhimento e integração que sejam dignas e exaltantes.
Não é cobrindo uma jovem com bosta de vaca que se acolhe uma colega que tem todo o direito a ser respeitada como pessoa humana. »
Daniel Serrão, Jornal "A Ordem"